“Universitetų Žinių Lyga”!

Julgo que em português seria algo do tipo “Liga do Conhecimento Universitário”

E do que se trata afinal? Bom, anteontem, a convite da minha amiga Agnė, fui aos estúdios da LRT (Lietuvos Nacionalinis Radijas ir Televizija), o equivalente à nossa RTP, para assistir à gravação dum concurso de conhecimento para estudantes universitários lituanos. Já antes tinha visto este programa na TV com a “minha família lituana” e achei-o bastante interessante. Não se trata de um jogo pergunta-resposta pura e simplesmente, como o Quem Quer Ser Milionário, ou algo assim, mas antes um jogo que desafia a originalidade de pensamento, espírito crítico, dedução, … muito bom mesmo.

Como podem imaginar, percebo pouco ou nada de lituano, mas ainda assim consegui seguir o programa e as perguntas realizadas, graças à ajuda do irmão e do marido de Agnė, que também vieram assistir ao programa e que me foram traduzindo o que eu não percebia. Consegui acertar em 5, num total de 16 ou 17 desafios, alguns até antes das equipas concorrentes, e é preciso lembrar que eu tinha de esperar pela tradução dos meus amigos! É verdade que não gosto de TV, mas este programa é uma excepção, adoro o formato, e adorei a experiência de assistir ao vivo!

Quanto à minha amiga e os seus colegas, vieram jogar em representação da VGTU, Vilniaus Gedimino Technikos Universitetas, contra a Universidade de Direito de Vilnius, e o resultado foi desastroso, perderam por 4-9. C’est la vie :p


Zarasai

No último fim de semana decidi-me por finalmente visitar uma pequena cidade no interior norte da Lituânia, Zarasai, um lugar magnífico no meio da região dos lagos lituanos, a meia dúzia de quilómetros da fronteira com a Letónia, e um pouco mais da fronteira com a Bielorrússia.

Apesar do frio intenso e da neve que começou a cair, não consegui resistir à beleza desta pequena cidade, e passei boa parte do tempo fora, percorrendo as geométricas ruas do centro, as belas ruelas plenas de casas coloridas feitas em madeira e, acima de tudo, contornando os enormes lagos que circundam Zarasai. Como seria de esperar, não parei um minuto para tirar fotos deste lugar fantástico, o que resultou em dois belos álbuns que vou partilhar aqui convosco.

A forma de hospedagem foi, mais uma vez, o couchsurfing. Fui acolhido por uma muito simpática embora tímida família, que tratou de me presentear com boa comida e o melhor quarto da casa, no primeiro andar, com uma varanda que tem vista para o grande lago. Que magnífico momento foi acordar com a luz do nascer do sol, sair à varanda, e ser presenteado com um espectáculo natural de intensas e magníficas cores reflectidas no lago fumegante…

Tive ainda a sorte de lá estar no dia certo, pois um importante escritor lituano veio à cidade para dar uma palestra sobre política internacional. Assisti até ao fim, percebendo muitíssimo pouco (fraco o meu lituano, sem dúvida), mas o suficiente para entender os temas e a sua perspectiva crítica da cobarde, pretensiosa e orwelliana política ocidental.

Enfim, um fim de semana para não esquecer tão cedo…

p.s.: Ah, ia-me esquecendo, a família que me acolheu presenteou-me, minutos antes de ir embora, com umas luvas de algodão puro, ao estilo tradicional lituano, feitas pela avó que já morreu à muito tempo. Portanto uma relíquia única que eu tive a sorte de receber! 🙂

ALBÚM 1

ALBÚM 2


Uma visita inesperada…

Durante os últimos 2 dias tive a companhia de um casal de couchsurfers, meus hóspedes por uma noite. Gente muito interessante, simpática e inteligente. O tempo passou a correr na companhia deles. Vendo-os partir para Moscovo para apanhar o transsiberiano, a minha vontade era juntar-me a eles… Bom, mas essa não é a história de hoje.

Desde que chegaram à minha casa que fiquei com a impressão que conhecia o rapaz (Olivier Denis) de algum lado, mas pelas conversas que tivemos puz completamente de parte a hipótese de o ter visto ou conhecido anteriormente, embora a estranha intuição de o haver visto antes persistisse.  O mistério só foi desvendado quando ele me confessou ser um dos 2 franceses raptados na República Central Africana e libertados no início deste ano. Depois de se terem ido embora, pesquisei na internet por notícias sobre o acontecimento e encontrei as mesmas notícas e fotos que vira na altura da sua libertação. Não tenho dúvidas portanto que era daí que conhecia a sua cara.

Para quem tiver curiosidade, deixo aqui links de 3 notícias sobre a sua libertação (com fotos):

http://www.rnw.nl/africa/article/kidnapped-french-aid-workers-freed-darfur

http://www.daylife.com/photo/0e6H3z9cd9b78

http://www.cyberpresse.ca/international/afrique/201003/14/01-4260582-darfour-deux-humanitaires-liberes-apres-quatre-mois-de-captivite.php

e um vídeo com uma entrevista dele:


Sim, aqui tudo pode acontecer…

À uns dias atrás recebi o meu primeiro CS guest português, Pedro Sousa, um viajante dos 5 continentes. Enquanto “tentávamos” preparar comida em casa, começámos a falar de especiarias e eu expliquei-lhe o quão difícil é encontrá-las aqui na Lituânia (onde não existe tradição de especiarias na preparação de pratos nacionais, antes ervas aromáticas frescas tiradas do jardim). Dito isto, expressei o meu sincero desejo de encontrar algum indiano em Vilnius ou alguém que me pudesse indicar onde comprar verdadeiras especiarias. A conversa ficou por ai.

No dia seguinte o Pedro foi sozinho a Trakai, a vila histórica que anteriormente fiz referência neste blogue. Ao voltar a Vilnius apareceu na companhia, imaginem, de um INDIANO! lol Passámos os trés o resto da tarde a passear pela cidade até que a malta se cansou e o indiano convidou-nos a visitar o seu quarto de hotel (de luxo, pago pelo seu empregador: a IBM). Para nosso espanto o meu desejo do dia anterior tornou-se realidade: O indiano ofereceu-nos umas sopas instantâneas super-picantes, uns cereais crocantes com especiarias, e para variar um pouco, uns doces tradicionais da Índia… mais uma história para contar aos não-netos… lol

Um extra: dois dias depois, em Kaunas, eu, o Pedro e a nossa CS host nessa cidade corriamos pelas ruas do centro histórico para fugir da chuva, quando uma mulher parou para me dizer olá e depois seguiu correndo enquanto olhava para trás sorrindo. Parei um pouco a pensar até que me lembrei quem era: a amiga de uma amiga minha que à três meses atrás me acolheu por uma noite na sua casa numa aldeola no sul so país…

O INDIANO NA MINHA BIKE E O PEDRO SOUSA

 


Vilnius a cidade onde tudo pode acontecer – Segunda Parte

Com as lentes dos meus óculos praticamente destruídas e impossibilitando-me de ver, decidi aproveitar a visita do meu amigo Linas (um miúdo de 13 anos membro da família de camponeses que me acolhe frequentemente) para ir a um oculista, tendo assim a preciosa ajuda de um tradutor em caso de ser necessário. Uma vez mais, fiz uso do GoogleMaps para encontrar o oculista mais próximo e os dois saímos em direcção ao centro. Erro do GoogleMaps ou nosso, a verdade é que na rua indicada na pesquisa não havia nenhum oculista. Hesitámos entre perguntar a alguém ou procurar pelas ruas do centro, até que eu me lembrei que podia perguntar aos meus “amigos” que trabalham num bar não muito longe do local onde nos encontrávamos. Para meu espanto, quando estávamos a menos de 30 metros do bar, encontrei um oculista, na mesmíssima rua onde sempre passo sempre que quero vir ao dito bar…

Dias depois, a caminho do centro para me encontrar com uma couchsurfer de Vilnius, encontrei a dona do bar, uma das 3 pessoas com quem me dou bem e com quem gosto de conversar nesse bar (os outros são os 2 empregados) e parámos para uma breve conversa. Continuei depois até ao fim da rua, e já na companhia da couchsurfer dirigi-me ao tão referido bar. Uma boa tarde passada ao som da chuva, uma conversa interessante e óptimo chá para saborear. À hora de fechar o bar apareceu a dona, que começou a falar comigo. O empregado juntou-se à conversa e começámos a falar da casa onde eu vivo. Ouvindo me falar da zona onde vivo (Užupis) disse-me que ele passava lá perto 2 vezes por semana. Eu perguntei porquê surpreso. A resposta não podia ser mais interessante: para joga badminton num pavilhão desportivo nessa zona. Continuei perguntado pormenores sobre o que era preciso fazer para poder jogar também e expliquei-lhes que tinha decidido anteriormente que queria praticar badminton durante a minha estadia na Lituânia mas que infelizmente ainda não tinha encontrado solução para tal. Gratuito e aberto a toda gente, disse-me ele, convidando-me a participar no próximo treino e oferendo-se para me emprestar uma raquete. Mas o mais surpreendente veio quando lhe perguntei a morada exacta: o tal pavilhão fica na mesmíssima rua que a minha casa e a menos de 50 metros distância! Numa cidade que se estende por tantos quilómetros, quem diria que iria encontrar onde jogar badminton ali ao virar da esquina… 🙂


Vilnius a cidade onde tudo pode acontecer

À uns dias atrás, jogou-se os quartos de final do campeonato do mundo de Basquetebol. A Lituânia, ainda em competição, ia jogar contra a Argentina às 9 horas da noite. Telefonei para uma amiga lituana e perguntei-lhe onde iria ver o jogo, pois eu gostava de o ver na companhia de lituanos, para melhor desfrutar da ansiada vitória da equipa lituana. A minha amiga já tinha planos, ver o jogo na casa de outros amigos, mas convidou-me para juntar-me a eles. Pesquisei no GoogleMaps pelo endereço, memorizei as ruas principais e 45 minutos antes do jogo sai com a minha bicicleta. 35 minutos antes do jogo começar, perto do centro de Vilnius, a roda dianteira da bicicleta perdeu todo o  ar, depois de eu ter passado por um buraco! Ainda estava a uns 15 minutos (com bicicleta) de distância da dita casa. Ir a casa a pé, resolver o problema e voltar à estrada com a bicicleta seria irrealizável em 35 minutos. Sentei-me num banco do centro a pensar, e conclui que o melhor seria ver o jogo num bar ali perto, e ligar à minha amiga a explicar o sucedido. Assim fiz, mas chegado ao bar escolhido descobri que estava sem carteira! A questão agora era saber se me tinha caído do bolso com o salto ou se a tinha deixado em casa. Na rua não estava, mas podia alguém já a ter roubado Para acabar com a dúvida tinha que voltar a casa o mais rápido possível. E além do mais só faltava 20 minutos para o jogo começar. Não esquecer que vivo no cimo da colina, a 2km do local que me encontrava e tinha uma bicicleta para empurrar. Mas bom, cheguei a tempo de ver o início do jogo, e sim, a carteira estava na mesa do meu quarto. Desapontado por ver um jogo da Lituânia na internet em vez de aproveitar a oportunidade para vê-lo com lituanos, decidi que durante o intervalo voltaria ao centro a correr, para ver a segunda parte no ecrã gigante instalado junto à Câmara Municipal, caso a Lituânia chegasse ao fim da primeira parte a ganhar por uma boa margem. É que queria ver e participar na eventual festa, mas sem bicicleta para descer a colina, queria ter uma razoável certeza antes de sair de casa. Por incrível que pareça, num jogo mágico e perfeito da selecção lituana, a vantagem a 2 minutos do fim da primeira parte já era de 20 pontos! E a Argentina era considerada favorita! Desatei a correr ainda antes da primeira parte acabar, percorrendo 2,5km de ruas completamente desertas, como se Vilnius fosse uma cidade fantasma, ou não, pois pessoas não havia na rua, mas o que não faltavam eram janelas reflectindo as cintilantes cores de milhares de ecrãs de TV sintonizados no mesmíssimo canal. O basquetebol na Lituânia é sem dúvida o principal desporto (e não o futebol) e possivelmente a principal religião! Cheguei ao centro mesmo a tempo de encontrar um canto com visibilidade para o ecrã gigante e ver a segunda parte que começou segundos depois. Em poucos minutos a Lituânia já ultrapassava a barreira dos 30 pontos de vantagem, adivinhava-se escândalo na Argentina e feriado nacional aqui! O ambiente estava fantástico: milhares de pessoas a gritar, a bater palmas a cada cesto bem sucedido, a cantar e a beber. E as bandeiras, às centenas, preenchiam a praça de colorida alegria! No meio de tão positiva confusão, acreditem, não deu para reparar quem estava ao meu lado ombro a ombro, e que pelos visto até tinha chegado antes de mim: Romunda e Neringa, dos lituanas que estudaram em Braga à 2 anos atrás e das quais perdi memória e contacto pois não faziam parte do círculo de amigos erasmus. Foram elas que me reconheceram (eu estava demasiado imergido no jogo) e mostraram-se curiosas para perceber o que fazia eu ali! A Lituânia ganhou, claro está, e a festa explodiu pelas ruas de Vilnius, carros e motas a abarrotar de gente e de bandeiras, muito cerveja, muito barulho e muito “nacionalismo alegre” nas caras desta gente que viu o seu país recuperar a independência à menos de 20 anos e que tomou esta histórica e primeira passagem às meias-finais do campeonato do mundo como uma forma forte e corajosa de afirmar a sua existência e a sua identidade. Quanto a mim, juntei-me as duas ex-erasmus e suas amigas, que me convidaram para juntar-me elas num bar ali mesmo ao lado onde esperariam por 3 amigos portugueses que supostamente chegariam nessa noite. E assim foi, o plano original era ver o jogo na casa de amigos da minha amiga, a uns bons quilómetros do centro, mas acabei por festejar a vitória da Lituânia junto à praça principal na companhia de 2 conhecidas e suas amigas, e falando em português com 3 gigolôs perdidos nesta terra de loiras… 🙂


Trakai

Ontem falei-vos sobre a bela vila de Trakai. Mas afinal o que a torna assim tão bela? Para mim sem dúvida que é o esplendor do exótico e gigantesco lago com inúmeras ilhas no meio. E como se não fosse já suficiente, numas destas ilhas, pode-se visitar um lindo castelo medieval e aprender um pouco sobre a história da Lituânia no interessante museu que lá se encontra.

LINK WIKIPEDIA (EM INGLÊS):     http://en.wikipedia.org/wiki/Trakai

TRAKAI EM 2005

TRAKAI EM 2010



O Povo e a Língua Karaim

De anteriores visitas à bela vila histórica de Trakai, descobri que um dos pratos tradicionais da Lituânia é o Kibinai. O que eu desconhecia era que este prato de facto não é lituano mas Karaim. A questão a partir deste momento era saber quem são ou quem eram os Karaims.

Os Karaims (ou Caraítas) são um povo turco de religião judaica, que se encontram principalmente na Crimeia (Ucrânia) e na Lituânia. Nesta última, mais especificamente em Trakai e Vilnius, encontram-se ainda 200 membros deste povo, dos quais 50 ainda falam Karaim (os únicos no mundo que ainda falam Karaim).

Ontem em quanto caminhava pela Rua Karaim em Trakai, descobri um templo religioso Karaim e um museu etnológico dedicado a este povo. Vale a pena visitar.

DEIXO-VOS ALGUMA INFORMAÇÃO WIKIPEDIANA EM INGLÊS, PARA O CASO DE QUEREREM SABER MAIS SOBRE OS KARAIM:

Karaims in Lithuania:

The origin of the Karaites in Lithuania is much better documented and agreed upon by the scholars. The Lithuanian Karaites originated in Crimea. In 1392, the Grand Duke Vytautas of Lithuania defeated the Crimean Tatars and relocated 330 Crimean Karaite families to Lithuania (Schur 1995). They settled primarily in Vilnius and Trakai, maintaining their Turkic language; there has been further minor settlement in Biržai, Pasvalys, Naujamiestis and Upytė. Despite a history through the sixteenth and seventeenth centuries that included disease, famine, and pogroms, Lithuania was somewhat less affected by such turmoil than surrounding areas. As a result, Lithuanian Karaim had a relative sense of stability over those years, and maintained their isolation as a group, keeping their Turkic language rather than abandoning it for the local languages (“Karaim Homepage” 1998).

Distribution of Karaim speakers:

Today, there are Karaim living in Crimea, Lithuania, Poland, Israel, and the United States. However, there only remain about 200 Karaim in Lithuania, only one quarter of whom are competent speakers of the Karaim language (Csató 2001).

Karaim can be subdivided into three dialects. The now-extinct eastern dialect, known simply as Crimean Karaim, was spoken in Crimea until the early 1900s. The northwestern dialect, also called Trakai, is spoken in Lithuania, mainly in the towns of Trakai and Vilnius. The southwestern dialect, also known as the Lutsk or Halich dialect, spoken in Ukraine, was near-extinct with only six speakers in a single town as of 2001 (Csató 2001). Crimean Karaim is considered to make up the “Eastern group,” while the Trakai and Lutsk dialects comprise the “Western group.”

Language health:

Most dialects of Karaim are now extinct. Maintenance of the Karaim language in Lithuania is now endangered due to the dispersal of Karaim speakers under the Soviet regime post-World War II and the very small number and old age of fluent speakers remaining (Csató 2001). Children and grandchildren of Karaim speakers speak Lithuanian, Polish, or Russian, and only the oldest generation still speaks Karaim.

LINK WIKIPEDIA:

http://en.wikipedia.org/wiki/Karaim_language


PARABÉNS LITUÂNIA!

Hoje fui para o centro de Vilnius ver o jogo Lituânia-China,  a contar para os oitavos de final do campeonato do mundo! Que ambiente magnífico, ecrã gigante, rua histórica inundada de gente, cores e festa. Um jogo de mundial de basquet aqui é de facto equivalente a um jogo de mundial de futebol em Portugal!

E sim, a Lituânia ganhou (como esperado) a China por 78-67, passaram aos quartos de final e nota-se que os lituanos começam a entusiasmar-se com a possibilidade de uma participação histórica. Não esquecer que ganharam todos os 6 jogos que jogaram neste mundial, inclusive contra a actual campeã do mundo Espanha.

Em Portugal põem-se grandes bandeiras nas janelas das casas e nas varandas, aqui são pequenas bandeiras presas do lado de fora dos carros em movimento que se vê cada vez mais…

Como se não basta-se, hoje, a selecção de futebol da Lituânia, treinada pelo português José Couceiro, obteve uma incrível e histórica vitória fora contra a República Checa por 1-0 num jogo de qualificação para o Euro 2012!


Sociedade ultracapitalista e superficial na Letónia

Hoje vou lhes contar uma série de factos que descobri sobre a Letónia à umas semanas  atrás, aquando duma breve vista a este país.

Numa sociedade pós-soviética onde toda a gente se vestia da mesma forma e comia os mesmíssimos produtos e que agora se depara com a infinita variedade e o omnipresente convite à superficialidade made in west, os resultados são desastrosos. Ao invés do meio-termo que caracteriza o Portugal contemporâneo, na Letónia (e muitíssimo mais na Ucrânia e na Moldávia, mas isso é outra história) ocorreu uma muda brusca de um extremo ao outros dos mundos possíveis: do comunismo 100% implementado para o capitalismo selvagem:

– Embora os salários ainda sejam muito baixos, comparados com o resto da Europa, e a classe-média Letã seja relativamente pequena, a quantidade de carros desportivos e de gamas caras é absurdamente elevada. Em Portugal queixamos-se e com razão do excesso de carros, mas na Letónia a qualidade dos carros choca ainda mais do que a quantidade em si. E estamos a falar do cidadão comum que se individa para obter uma viatura acima da média para afirmar o seu status. Quanto aos ricos, bom, o que dizer… Riga é a cidade com maior concentração de Bentleys que jamais visitei. Ferrari’ Enzo, Lamborghinis… todos os carros de luxo que se possam lembrar podem facilmente ser encontrados nas ruas de Riga…

– Existe uma companhia aérea comum aos três passei bálticos, a AirBaltic, que oferece preços a meio caminho entre uma low-cost e uma companhia convencional. Em conversa com letões em Riga foi me explicado que, pese embora a  insignificante diferença de serviço entre  classe económica e classe executiva, as diferenças de preços são astronómicas. Seria portanto de esperar vendas de bilhetes para a classe executiva nulas ou quase nulas, mas não. A classe executiva tem uma procura imensa e esgota frequentemente antes da económica, devido ao comportamento dos novos-ricos (maioritariamente russos) que tudo fazem para mostrar a sua posição superior na escala de status social…

-Existem algumas excentricidades jamais imagináveis em Portugal: à quem pague fortunas para comprar por exemplo um passe VIP para entrar com o seu bólide numa zona supostamente interdita à circulação automóvel e percorrer uma insignificante distância de 300 metros,  quando poderiam simplesmente estacionar o carro e fazer o resto do caminho a  pé. Mas a ideia é precisamente essa: mostrar que têm o poder para cometer tal excentricidade. E mais, muito mais. Há novos-ricos anónimos quem pagam fortunas à televisão que transmite um concerto pop/fashion para que sejam filmados 4 ou 5 vezes durante a transmissão, ou que pagam fortunas para aceder à zona VIP do concerto e assim serem vistos na TV junto a pessoas famosas ou muito mais ricas! Enfim…

– Enquanto couchsurfava numa aldeia perto de Riga, o meu host contou-me uma nova anedota surgida após a super-crise económica de 2008, cuja economia que mais afectou a nível mundial foi precisamente a da Letónia, e que mostra bem o extremo capitalista a que chegou esta sociedade de consumo superficial. Bem, a anedota, muito curta, é a seguinte: “Depois da super crise que tivemos, agora as pessoas ATÉ JÁ casam por amor” 🙂